Cancioneiro

Tristeza do Jeca

Nestes verso tão singelo
Minha bela, meu amor
Pra você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sô que nem sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde um galho onde ele está

Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira chão
Todo cheio de buraco
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá na mata a passarada
Principía um barulhão

Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade

Vou parar cua minha viola já não posso mais cantar
Pois um jeca quando canta têm vontade de chorar
O choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo
Como as água vão pro mar

Angelino de Oliveira (1918)

Luar do sertão

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão”

Oh! que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia
E a canção é a Lua Cheia a nos nascer do coração

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Mas como é lindo ver depois pro entre o mato
Deslizar calmo regato transparente como um véu
No leito azul das suas águas murmurando
E por sua vez roubando as estrelas lá do céu

Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão

Catulo e João Pernambuco (1914)

Viola quebrada

Quando da brisa no açoite
A frô da noite se acurvô
Fui se encontrá
Com a Maroca, meu amô

Eu senti n’alma um choque duro
Quando ao muro lá no escuro
Meu oiá andou buscando
A cara dela e não achô

Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou

Minha Maroca
Resolveu pro gosto seu me abandoná
Por que um fadista
Nunca sabe trabaiá

Isso é bestêra
Que das frô que bria e chêra a noite inteira
Vem depois as fruta
Que dá gosto de saboriá

Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou

Minha Maroca
Resolveu pro gosto seu me abandoná
Por que um fadista
Nunca sabe trabaiá

Isso é bestêra
Que das frô que bria e chêra a noite inteira
Vem depois as fruta
Que dá gosto de saboriá

Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou

Pro causa dela
Sou rapaz muito capaz de trabaiá
E todos dia, todas noite capiná

Eu sei carpi
Pro que a minha alma tá arada
Rotiada, capinada
Com as foiçada dessa luz do teu oiá

Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou

Mário de Andrade (1926)

Chico Mineiro

Cada vez que eu me alembro do amigo Chico Mineiro
Das viagem que nóis fazia, era ele meu companheiro
Sinto uma tristeza, uma vontade de chorar
Alembrando daqueles tempo que não mais hái de vortar
Apesar de eu ser patrão
Eu tinha no coração o amigo Chico Mineiro
Caboclo bom, decidido
Na viola era delorido e era o peão dos boiadeiro
Hoje, porém, com tristeza
Recordando das proeza da nossa viagem motim
Viajemo mais de dez ano, vendendo boiada e comprano
Por esse rincão sem fim
Caboclo de nada temia
Mas porém chegou um dia que Chico apartou-se de mim

Fizemo a úrtima viage
Foi lá pro sertão de Goiás
Fui eu e o Chico Mineiro
Também foi o capataz

Viajemo muitos dia
Pra chegar em Ouro Fino
Aonde nóis passemo a noite
Numa festa do Divino

A festa tava tão boa
Mas antes não tivesse ido
O Chico foi baleado
Por um homem desconhecido

Larguei de comprar boiada
Mataram meu companheiro
Acabou o som da viola
Acabou-se o Chico Mineiro

Despois daquela tragédia
Fiquei mais aborrecido
Não sabia da nossa amizade
Por que nóis dois era unido

Quando vi seu documento
Me cortou meu coração
Vim sabê que o Chico Mineiro
Era meu legítimo irmão

Tonico (João Salvador Pérez) e Francisco Ribeiro (1946)

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