
O meu cavalo, relinchando campo a fora
Que por certo também chora na mais triste solidão
Meu par de esporas, meu chapéu de aba larga
Uma bruaca de carga, um berrante e um facão.
MÁGOA DE BOIADEIRO
RAUL LING / PEXELS.COM
Cancioneiro
Tristeza do Jeca
Nestes verso tão singelo
Minha bela, meu amor
Pra você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sô que nem sabiá
Quando canta é só tristeza
Desde um galho onde ele está
Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira chão
Todo cheio de buraco
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá na mata a passarada
Principía um barulhão
Nesta viola eu canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Vou parar cua minha viola já não posso mais cantar
Pois um jeca quando canta têm vontade de chorar
O choro que vai caindo
Devagar vai se sumindo
Como as água vão pro mar
Angelino de Oliveira (1918)
Luar do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão”
Oh! que saudade do luar da minha terra
Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão
Este luar cá da cidade tão escuro
Não tem aquela saudade do luar lá do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Se a lua nasce por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata prateando a solidão
E a gente pega na viola que ponteia
E a canção é a Lua Cheia a nos nascer do coração
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Mas como é lindo ver depois pro entre o mato
Deslizar calmo regato transparente como um véu
No leito azul das suas águas murmurando
E por sua vez roubando as estrelas lá do céu
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Não há, ó gente, ó não
Luar como esse do sertão
Catulo e João Pernambuco (1914)
Viola quebrada
Quando da brisa no açoite
A frô da noite se acurvô
Fui se encontrá
Com a Maroca, meu amô
Eu senti n’alma um choque duro
Quando ao muro lá no escuro
Meu oiá andou buscando
A cara dela e não achô
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou
Minha Maroca
Resolveu pro gosto seu me abandoná
Por que um fadista
Nunca sabe trabaiá
Isso é bestêra
Que das frô que bria e chêra a noite inteira
Vem depois as fruta
Que dá gosto de saboriá
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou
Minha Maroca
Resolveu pro gosto seu me abandoná
Por que um fadista
Nunca sabe trabaiá
Isso é bestêra
Que das frô que bria e chêra a noite inteira
Vem depois as fruta
Que dá gosto de saboriá
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou
Pro causa dela
Sou rapaz muito capaz de trabaiá
E todos dia, todas noite capiná
Eu sei carpi
Pro que a minha alma tá arada
Rotiada, capinada
Com as foiçada dessa luz do teu oiá
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Teu coração me deixou
Mário de Andrade (1926)